Etnobotânica : O Desenvolvimento do Mundo Ocidental e as Plantas

"Simplesmente adormeceu a força na semente, um modelo incipiente, Deitado, fechado em si mesmo, curvado sob a cobertura, Folha e raiz e embrião formado, apenas, pela metade, e incolor; seca, a semente mantém protegida a vida assim conquistada, flui com esforço para cima, umedece-se suave e confiante, e ergue-se tão logo da noite se acerca." Johann Wolfgang de Goethe


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Uma breve introdução…

Olá!

Seja Bem vindo

Produzimos esse material com o objetivo de trazer para você informações sobre o desenvolvimento da humanidade a partir da relação com os vegetais terrestres.

Se caminhássemos por uma linha do tempo da humanidade e suas organizações populacionais, perceberíamos uma variação da paisagem, dos hábitos alimentares, das culturas, do mercado e notaríamos que alguém estara  participando de todos esses processos: As plantas.

Helijone Munhoz, Laura Nery, Nicole Wiezel, Wilson França

–  Estudantes do 4º ano de Ciências Biológicas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). 

As plantas e a humanidade

    Levando em consideração quem habita o planeta há mais tempo, a diferença é altamente discrepante. Enquanto os humanos modernos se desenvolveram na África há apenas 130.000 anos, as espécies vegetais colonizaram a Terra há 470 milhões de anos. As plantas sempre forneceram à humanidade combustível, alimento, abrigo e remédios. Elas controlam a taxa de erosão do solo e regulam a quantidade de dióxido de carbono e oxigênio no ar. Produtos derivados delas são usados em inúmeros processos industriais.

Para alcançar nossos objetivos e trazer os conhecimentos propostos, adotamos a seguinte linha do tempo:

Etnobotânica

    Os principais campos de estudo da etnobotânica envolvem a utilização de plantas no oriente e no ocidente antigo, taxonomia popular, vestígios arqueobotânicos, a origem e domesticação de plantas cultiváveis, efeitos ecológicos da atividade humana sobre a comunidade de plantas, o papel simbólico das plantas nas religiões, no folclore e nos monumentos sagrados de civilizações primitivas. (Peri et al 1983) A etnobotânica faz estudos com duas principais finalidades, uma de explorar novas plantas como recursos disponíveis a se tornar matéria prima para indústria e outra como um instrumento de entendimento do papel das plantas na fomentação da cultura material.


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Idade Antiga (4000 aC – 476 dC)

        Os principais campos de estudo da etnobotânica envolvem a utilização de plantas no oriente e no ocidente antigo, taxonomia popular, vestígios arqueobotânicos, a origem e domesticação de plantas cultiváveis, efeitos ecológicos da atividade humana sobre a comunidade de plantas, o papel simbólico das plantas nas religiões, no folclore e nos monumentos sagrados de civilizações primitivas (Peri et al 1983). A etnobotânica faz estudos com duas principais finalidades, uma de explorar novas plantas como recursos disponíveis a se tornar matéria prima para indústria e outra como um instrumento de entendimento do papel das plantas na fomentação da cultura material.

Podemos dizer que foi na revolução neolítica que iniciou uma vida social ordenada e estratificada com comunidades estabelecidas. Até 10000 anos atrás as comunidades sociais humanas se estabeleciam em grupos nômades caçadores e coletores. Com o descobrimento dos ciclos das plantas e das estações a habilidade de plantar, germinar e cultivá-las foi desenvolvida. Em seguida, comunidades mais complicadas se organizam de forma sedentária e surgem em forma de cidades-Estados, adquirindo um sistema político elaborado, agricultura sacerdotal e, uso de moeda e sistemas econômicos permitindo o desenvolvimento de luxurias com a Arte e a Escrita. Todos esses processos ocorreram por volta dos 5 mil anos A.C. o qual foi chamado de “Período fértil crescente das terras Aráveis” em torno da Arabia selvagem. Esta área corresponde à região onde se encontra o Egito, Palestina, Siria e Mesopotâmia que até o fim do quarto milênio permaneceu como um complexo de vilas simples com agricultura primitiva e princípios tribais de organização social.

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Por um certo tempo, as plantas foram consideradas objetos passivos de utilidade ao homem. No entanto com o desenvolvimento da ecologia adquirimos uma maior compreensão do papel que temos em conjunto com elas inseridos em um mesmo sistema complexo e integrado. As plantas e a humanidade passaram a ser vistas como co-dependentes, e o trabalho de etnobotânicos foi transformar de um conhecimento compilado do uso de plantas à um entendimento, numa perspectiva biológica, do complexo sistema de interação entre ambos que culminou no desenvolvimento das civilizações.

Criticamente, vendo por uma perspectiva ecológica, as bases biológicas das relações entre as plantas e as sociedades humanas podem ser mensuradas tanto quantitativamente quanto qualitativamente por etnobotânicos de campo utilizando de dados empíricos (arqueológicos e etnoecológicos).
O desenvolvimento da agricultura surgiu em diferentes lugares em um mesmo período. Apesar de não ser claro se esse surgimento se deu de forma independente, as consequências pelo desenvolvimento em ambientes diferentes, com faunas, floras e geografias diferentes implicou na construção de culturas e organizações sociais com fundamentos bem diversos.

Egípcios

Os egípcios e mesopotâmicos com certeza foram os maiores deste período quanto ao desenvolvimento da engenharia, artístico, arquitetônico e cientifico. Os Papiros egípcios são repletos de registros com uso de plantas, especialmente as com finalidade medicinal, e também há várias indicações da flora tanto do Egito quanto de regiões vizinhas. Talvez o registro médico mais importantes dos egípcios seja o Papiro de Ebers, que foi compilado a mais ou menos 1550 A.C. de acordo com as fontes. Ele contem mais de 700 fórmulas e medicinas populares.

É importante salientar que essas civilizações amarraram em seu contexto expressões artísticas à religião e que sua religião estava ligada á magia – Magias relacionadas ao saber dos grãos e da agricultura, ao saberes da preparação de bebidas, aos estados elevados de consciência associado com as plantas; ao alívio de dores e a cura através do uso das plantas; e também com a ritualística do embalsamento dos corpos com resinas vegetais. Junto ao desenvolvimento desse conhecimento, a escrita apareceu, monumentos arquitetônicos surgem de pedregulhos, agricultura passa por mudanças radicais e a religião e ciências ocupam um lugar na cultura.

Sabe-se que nenhuma civilização se desenvolveu sem o estabelecimento de uma base agricultural; um ponto em comum entre os Egípcios e os Sumérios é que compartilharam o fato de terem estabelecidos próximos a Grandes Vales fluviais nos quais, por conhecerem técnicas de assoreamento da terra, o desenvolvimento da agricultura teve sucesso. No Egito a Aridez do Norte da Africa levou-os à se estabelecerem próximos ao Delta do rio Nilo onde puderam emergir como uma grande civilização. Da mesma forma na Mesopotâmia, Os Sumérios, um povo não semítico e não indo-Europeu, no início do Terceiro milênio A.C. instalaram nas terras iranianas por abandonaram a árida região do Golfo Pérsico.

Estabeleceram-se em ilhas e bancos pantanosos considerando as enchentes anuais dos rios e baseando-se em seus vales de irrigação, onde possivelmente criavam pequenos peixes e plantas aquáticas comestíveis como os rizomas de Nymphaea. A área apresentava vastas áreas areadas, permitindo o cultivo de trigo e cevada. Lá, rapidamente as Cabanas de Argila e Cana foram substituídas por uma original arquitetura em tijolos. Neste mesmo período, 3500 A.C. , em sepulturas foram achados objetos que indicavam dois tipos de práticas artísticas de seus costumes, Cerâmicas ornamentadas e a confecção de vestimentas caracterizadas. Antes mesmo da escrita já tinham desenvolvido a capacidade de construírem Barcos, com ornamentações florísticas e com retratação de animais. Já no final do segundo milênio as embarcações possuíam um design com diversas formas, além de formas animais e de plantas, algumas formas humanas também ( Um homem com um arco a frente do barco). Esses elementos com certeza não eram meramente decorativos e sim uma representação capaz de descrever suas próprias realidades. No caso de um caçador segurando um Arco, isso caracteriza muito a premissa de que a atividade caçadora e coletora é essencial para a subsistência e sobrevivência deles.

Podemos dizer que os Egípcios e Mesopotâmicos compartilhavam de uma diversidade de recursos semelhantes na região do Fértil crescente. E Portanto é possível caracterizar de forma parecida seus hábitos alimentares e medicinais.
A base alimentar dos egípcios eram o trigo e a cevada, com as quais faziam, respectivamente o pão e a cerveja (não como conhecemos hoje, mas uma bebida feita a partir do centeio). Muitas Leguminosas estavam envolvidas também, como a lentilha e o grão de bico, frutas como Melão, Melancia, o Figo e Tâmaras; a técnica de preparo de queijo a partir do leite de vaca e cabras já era amplamente utilizada; O consumo de carne, como de pato ou de caças complementares é comum também. Essa éra a base alimentar daqueles que compunham a elite social, enquanto que os mais pobres e escravos alimentavam basicamente de água e pão, alimentando-se raramente de frutas e carne. Dentro da Horticultura produzia-se também Cebola, alho, alface, coentro, cominho, funcho e os grãos de papoula. Praticavam a domesticação de abelhas e utilizavam o mel para adoçar.

Nymphaea caerulea – Muito Utilizada pelos Egípcios, e também pelos sumérios, da Lótus Azul era consumido as flores por conta de suas propriedades narcóticas e o rizoma cozido na alimentação. Há muitas representações em artefatos Egípcios com a Nymphaea, e sua presença é muito simbólica, sendo que a lótus azul, principalmente, simbolizando o Egito antigo. Estão desenhadas em tigelas, cerâmicas, ânforas, e também aparecem grafadas nos barcos. Também simboliza a morte e ressurreição do deus Osíris, já que ela floresce por três dias seguintes abrindo de dia e fechando a noite.

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No mundo novo – Astecas e Maias

Restaram ainda alguns registros pictóricos, remanescentes da tremenda perca que ocorreu com a colonização dos espanhóis, que foram decifrados e estudados. Esses registros indicam uma ampla afinidade etnobotânica com a propriedade de plantas, a riqueza das floras e a importância de muitas espécies, especialmente as de contexto mágico-religioso em ambas as culturas. Na época em que os espanhóis chegaram a America, os Astecas já tinham um enorme jardim botânico na cidade do México. O Primeiro herbário publicado sobre o novo mundo é de 1542 e é conhecido como “ Badinus Manuscript” feito pelo ‘Físico’ Azteca, Martín de la Cruz. O Volume é ilustrado com vários desenhos das principais plantas medicinais Aztecas, descritas com seus nomes nativos e seus valores terapêuticos. Logo depois, na mesma época, o Rei da Espanha enviou seu “Físico” pessoal para viver entre os Astecas e estudar suas Medicinas. Dr. Francisco Hernández passou vários anos entre os nativos compondo um Volume ilustrado em Latim – Rerum Medicarum novae Hispaniae Thesaurus, seu Plantarum, Animalium, Mineralium Mexanorum historia – Publicado em 1651.

Uma das principais plantas que constituem a alimentação do povo Asteca é o Milho. Usado como farinha, tortilhas, massas semelhantes a de tacos, pipoca e até mesmo bebidas. Junto ao milho, os mais comuns utilizados junto a este são feijões e abóbora. Junto a esses três, usa-se em misturas Tomates, pimentões, Pimentas chilli, Amendoins, diferentes tipos de batatas e batatas doce, cajus, e claro o Chocolate. O chocolate é mais utilizado pela elite, e estes recusam-se a beber o pulque, suco fermentado da Agave, uma bebida popular. Os Astecas também domesticaram abelhas para utilização do seu mel, patos e cães para carne. Alimentavam-se também de insetos como gafanhotos, formigas e minhocas.
Morning Glory – “ Ololiuqui” – Turbina corymbosa, Ipomoea violacea – é uma planta psicoativa bem utilizada para fins ritualísticos e medicinal entre os Astecas. Atribuía-se a esta as propriedades de serem capazes de tratarem de gonorreia, aliviarem as dores da malária, removerem flatulências e dissolverem tumores. Esta ainda era uma planta sagrada que de forma ritualística proporcionava uma religação com uma de suas divindades “The Seven Flower Gods”, o deus dos sons, poesia, primavera e o Patrono dos estimulantes e alucinógenos. Junto a essa prática ritualística, outras plantas são utilizadas. Entre elas algumas espécies de Datura sp. , o pulque, o Tabaco e os Cogumelos sagrados. Todas estas eram utilizadas em ritos de comemoração ou sacerdotais onde compartilhavam suas visões e experiências ‘transcendentais’.
O Cacau, Theobroma cacao é utilizado para o preparo de uma de suas principais bebidas. Contendo muita cafeína, o cacau causava uma sensação divina de bem estar, vitalizado o vigor físico e as capacidades mentais. Com fins medicinais era aplicado para o alívio de “perturbações mentais”.

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Europa

Os registros etnobotânicos na Europa indicam terem começado com Dioscorides, um Botânico Grego e Físico, que viajou largamente pela Grécia, Itália e Asia, já produzindo no Primeiro Século A.C. o compêndio “ De Matéria Medica” contendo mais de 500 plantas descritas.

Estudos com plantas alucinógenas oferecem contribuições quanto a origem e caracterização de diferentes e complexos tipos de crenças religiosas (La Barre 1938; Reichel-Dolmatoff 1971,75). Trabalhos com Antropologia medicinal destaca o significado não ocidental do conceitos de saúde e cura e, ao fazê-la, enfatiza a elaborada conexão entre crenças espirituais, predisposições psicológicas e farmacológicas que constitui a base de toda prática indígena envolvida com preparações ritualísticas com psicotrópicos.
Muito foi negligenciado quanto ao reconhecimento da diversidade de plantas Alucinógenas que existem e a relação que elas tiveram com várias civilizações primitivas no mundo, e que estas tiveram grandes influências nas cultura e nas Artes. As civilizações presentes na região do ‘Crescente Fértil’, por exemplo, empregaram o uso de plantas como Datura, Cannabis, Claviceps, Mandragora, Nymphaea, Vitis e possivelmente Papaver também tanto de forma medicinal quanto em ritualísticas “narcóticas”. Elas são muito bem representadas em artefatos (Vasos,) e artes dessas civilizações.


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A mandrágora (Mandragora officinarum), nativa do Mediterrâneo, crescida em regiões de orlas e clareiras, é uma planta da família Solanaceae (a mesma do tomate). Possui as seguintes características: herbácea, sem caule, dotada de flores campanuliformes azuis (formato de sino) , conhecidos como a “maçã do diabo”, devido ao seu aroma e toxicidade, sendo considerada afrodisíaca pelos árabes. Além dos seus frutos, todas as partes desta planta apresentam uma certa toxicidade e podem ser prejudiciais aos humanos se consumidos de maneira errada. Sua toxicidade se deve a presença de alcalóides tropânicos, como a hiosciamina e hioscina, substâncias responsáveis pela amnésia causada pela ingestão dos frutos dessa solanácea. Apesar de todas as propriedades afrodisíacas, muitas das lendas, crenças e superstições eram devido à raiz bifurcada e retorcida que tinha formato antropomórfico.

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A primeira vez que amêndoas são mencionadas na literatura grega ocorre a 500 anos A.C. na comédia de Eupolis, Attic. Nesta obra ele indica que no festival Trácio em Kotytia as amêndoas eram utilizadas para iniciar um juramento. Quanto a ser comestível, as amêndoas podem ser usadas em cosméticos e óleos medicinais e aromáticos. Era usado como um supressor de tosses e sedativo brando também. Em doses moderadas ou pequenas podem ser benéficas.

Era aconselhável que mascassem 5 ou 6 sementes de estômago vazio para manter a sobriedade após um banquete e muita bebida. Além da propriedade neutralizadora do estado de embriaguez, ela também é capaz de ajudar na digestão e respiração. Caso fosse ingerido um punhado, com certeza seria fatal pois as amêndoas possuem um metabólico tóxico. Em baixas doses, o mesmo princípio ativo responsável pela toxicidade pode causar efeitos psicoativos.

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Por causa do clima, os gregos estavam habituados a uma alimentação bastante frugal. Deviam sua força e saúde tanto a sobriedade como ao habito de exercícios físicos. Os cereais constituíam a base da alimentação; a farinha de trigo servia para fabricar o pão, (os gregos distinguiam os povos civilizados dos povos selvagens pelo uso do pão). A farinha de cevada era dissolvida na água ou no leite para se fazer uma papa, que era o alimento habitual dos pobres.

De preferência comiam-se legumes (alho, cebola, alho poro, alface, favas) e frutos (azeitonas, figos, amêndoas, uvas passas, tâmaras, romãs). A carne raramente aparecia nas mesas: nos dias de festas, assava-se um cordeiro ou um cabrito; às vezes servia-se carne de boi, mais frequentemente carne de porco. Como grandes caçadores que eram, os gregos apreciavam as carnes de caça: principalmente, as carnes de lebre, perdiz, codorniz e tordo. A pesca também fornecia uma parte dos alimentos, os pobres compravam sardinhas e atum dos vendedores. Comumente, tomava-se água, o vinho era reservado para os dias de festas e principalmente para os banquetes.

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Em geral os gregos faziam três refeições diárias, ao levantar-se, tomava uma refeição ligeira de pão e vinho puro; ao meio dia mais ou menos, o almoço bastante reduzido. A principal refeição era o jantar, nos jantares de cerimônia, além das entradas, a mesa era servida mais duas vezes, na primeira vez ofereciam-se peixes, legumes, carne; na segunda: frutas e doces. Algumas vezes antes de dormir era habitual servir uma ceia ligeira.

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Idade Média (476 – 1453)

                   Nessa seção, realizamos uma entrevista com a doutoranda em Letras pela UFPB. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Literária Medieval, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura medieval, literatura medieval portuguesa e francesa, literatura e mitologia nórdica, mitologias celestes e Etnoastronomia na Antiguidade.com o objetivo de entender melhor qual era a relação de nossa espécie com as plantas ao decorrer da idade média.

Economia e Comércio

P: Olá Luciana, você poderia começar nos falando um pouco sobre qual era a influencia das plantas na economia da idade média?

R: Os vegetais em geral têm uma importância impar tanto na economia como na vida cotidiana das populações medievais. Temos que pensar que a agricultura e também a coleta, pois as florestas são fundamentais para a manutenção da vida: as castanheiras, aveleiras e mesmo o carvalho forneciam não só a madeira mas os seus frutos eram essenciais pois além de ser consumidos in natura também era possível fazer farinhas e pães com eles. Além disso as grandes casas e castelo bem como os mosteiros possuíam hortas que forneciam verduras e legumes e também ervas aromáticas e medicinais que eram utilizadas como condimentos e eram largamente utilizadas na preparação de remédios. Podemos afirmar que o cultivo e também o comércio de todos esses vegetais em feiras que aconteciam periodicamente eram fundamentais não só por gerarem renda mas por constituírem a base da vida medieval.

P:  E qual era a dimensão do comércio relacionado às plantas?

R: O comércio de vegetais acontecia majoritariamente nas feiras onde muitas vezes era praticado o escambo pois muitos camponeses não possuíam moedas mas produtos que podiam ser facilmente ser trocados por outros e, na maioria das vezes os vegetais que não eram cultivados nas hortas particulares podiam ser adquiridos nessas trocas. O mesmo acontecia com as ervas aromáticas e medicinais. Já os mosteiros possuíam hortas muito grandes e elas eram divididas as que produziam legumes e hortaliças e uma horta que mais tarde veio a formar o conceito do que hoje conhecemos como jardim: nela eram cultivados somente espécies vegetais utilizadas para a fabricação de medicamentos e os temperos utilizados para aromatizar a comida e também o vinho e a cerveja produzidos para o consumo mas também para a venda.

P:  Como as plantas influenciaram o desenvolvimento das populações da idade média?

R: É fundamental compreendermos que o cultivo de vegetais e aí podemos incluir todos os tipos: trigo, sorgo, aveia, centeio, cevada, lentilhas, ervilhas, favas, tubérculos, hortaliças, feijões, frutas, vinhas, ervas aromáticas e medicinais foram fundamentais para o desenvolvimento tanto humano como comercial na Idade Média. Um bom exemplo do uso e, posteriormente cultivo e comércio de plantas aromáticas e medicinais é o lúpulo. Essa planta invasora que devia ser podada frequentemente senão invadia as hortas e “roubava” espaço, luz e nutrientes das outras plantas cultivadas passou a ser estudada por uma monja chamada Hildegarda de Bingen no século X. Ela estudou as propriedades adstringentes e de conservação dessa planta e, descobriu que quando acrescentada à cerveja que era preparada pelas monjas do mosteiro além de conferir um sabor amargo à bebida a cerveja passou a se conservar por mais tempo. Como se sabe o lúpulo é utilizado até hoje na fabricação da cerveja. E, isso, devemos a curiosidade, estudo e experimentação de uma monja medieval!

P: Quais eram as plantas mais valorizadas comercialmente?

R: Com toda certeza as plantas com o maior valor comercial eram sem dúvidas os cereais. O trigo, o centeio, a cevada, a aveia serviam de base para se fazer o pão que em muitas refeições servia como uma espécie de prato (a trincha era uma fatia de pão de vários cereais redonda e bem grossa que servia de base para se apoiar as carnes que seriam consumidas nas refeições nos castelos e depois podia ser comida).

Agricultura e alimentação

P: Como era o sistema de agricultura? Quais eram os vegetais utilizados? Qual era a escala de produção dos cultivos?

R: A agricultura era uma tarefa executada por todos os camponeses: homens, mulheres e crianças, mas somente os homens semeavam pois na crença medieval o homem é portador da semente que fecunda a mulher e portado se a semente era jogada na terra por mãos femininas ela não “vingava”. Os campos eram divididos em partes e uma parte dele sempre ficava descansando. Era praticada uma agricultura rotativa e obedecia ao seguinte ciclo: semear na Primavera, no Verão tudo crescia e frutificava, no Outono era realizada a colheita e no Inverno tudo descansava. Como o plantio dependia das condições climáticas favoráveis e não existiam os fertilizantes artificiais o descanso de uma parte do campo era essencial para que a fertilidade do solo fosse mantida. Eram comuns os Invernos rigorosos demais e as Primaveras pouco chuvosas ou Verões muito quentes e as colheitas eram poucas gerando assim os grandes surtos de fome e, consequentemente a morte de boa parte da população e, nesses casos mesmo recorrendo ás florestas que eram grandes fontes de alimentos – caça, frutos silvestres e uma grande quantidade de legumes comestíveis – não era suficiente para todos. Os cereais como citei acima eram os mais cultivados.

P: Quais eram os vegetais mais consumidos na alimentação?

R: Você encontraria com certeza o nabo (Brassica rapa) (muito diferente desse que encontramos hoje!), a Chicória, (Cichorium intybus) a cenoura,(Daucus carota) a cebola (Allium spec.) e o alho poro (Allium ampeloprasum). Que como já disse possuíam um uso culinário mas também medicinal.

Paisagismo e Construções

P: Quais vegetais utilizados nas construções?

R: As madeiras usadas na construção das casas eram nobres: o carvalho,(Quercus faginea), freixo,(Fraxinus excelsior) aveleira, (Corylus avellana) pinheiro (Picea abies) eram largamente empregados. No caso da Escandinávia essas madeiras eram também utilizadas para a construção de navios. São consideradas madeiras nobres pela sua durabilidade.

P: Se voltássemos para essa época, quais seriam 5 plantas que teríamos grande chance de ver nos jardins?

R: Você me fez uma pergunta difícil! Como elencar somente cinco plantas!  Escolhi cinco muito utilizadas na Escandinávia pois essa região é atualmente o meu foco de estudo. Mas vamos lá: com certeza em todo jardim não podia faltar:

1-) Sálvia (Salvia officinalis)utilizada como cicatrizante, antiinflamatória e indispensável para a higiene bucal para aromatizar carnes brancas. 

A sálvia era utilizada juntamente com um punhado de sal em um pano limpo para escovar os dentes.

2-) Calendula  (Calendula officinalismuito utilizada para aromatizar os sabonetes mais finos misturada com banha de porco e urina fresca (podia ser humana sim!) e funcionava com adstringente.

Suas pétalas de folhar eram empregadas em curativos por serem excelente cicatrizante.

3-) Artemísia (Artemisia vulgaris) – planta largamente utilizada pelas parteiras para facilitar o trabalho de parto e também conferir à parturiente uma leve analgesia.

Muito utilizada também para os males dos estômago e para conferir certo sabor à cidra, hidromel e cerveja.

4-) Mil-folhas ( Achillea millefolium) – excelente analgésico quando utilizado em chás e as folhas eram amassadas com banha e embrulhadas em um pano aquecido e aplicado nas machucaduras.

5-) Alho-poró (Allium ampeloprasum) – Era utilizado como condimento mas também como um poderoso antibiótico e cicatrizante pois um cataplasma de suas folhas eram aplicado nas feridas mais profundas para que elas se fechassem.

Seu chá também era empregado com o mesmo fim. Hoje o seu uso está restrito somente à culinária.

Para concluir…

Um estudo de 2013 publicado no Danish Journal of Archaeology:  “Viking Age garden plants from southern Scandinavia – diversity, taphonomy and cultural aspects” traça  um panorama do que de todos os vegetais que eram cultivados nos jardins das casas no Sul da Escandinávia durante a Era Viking (séculos VIII – XI). Além de apresentar o nome popular e o científico os pesquisadores tiveram o cuidado de fazerem croquis dos locais de cultivo de cada uma das espécies cultivadas.

Esse trabalho é demasiadamente interessante pois ele nos mostra como o diálogo multidisciplinar é fundamental para o avanço das pesquisas principalmente no que diz respeito ao cultivo e uso de plantas tanto na culinária como na medicina caseira. Infelizmente o cenário brasileiro mostras-se engessado e encastelado: por um lado os Historiadores que se dedicam ao estudo da Idade Média fecham-se em documentos que dizem respeito à Igreja e as instituições e não veem lá com muito bons olhos outras documentações como, por exemplo a literatura ou os manuscritos que descrevem com minúcias as plantas utilizadas naquele período, por sua vez os botânicos também não demonstram esse interesse em estudar esse material e juntamente com historiadores e arqueólogos estabelecerem um diálogo profundo e constante que possa debruçar-se sobre esses manuscritos – muitos deles estão disponíveis na internet o que em tempos de falta total de recursos para a pesquisa facilita sua consulta! – e assim poder entender muito do uso de plantas medicinais no Brasil que tem suas raízes na Idade Média!

Luciana de Campos tem 45 anos, é Graduada em Letras/UNESP Araraquara, mestre em História pela UNESP Franca, faz doutorado em Letras na UFPB e é pesquisadora do NEVE Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos e atualmente desenvolve uma pesquisa sobre o Mito da Mulher Guerreira na Saga de Hervor e tem um interesse imenso sobre botânica e uso medicinal e culinário de ervas e plantas na Idade Média. Paralelo a tudo isso desenvolve pesquisa sobre Gastronomia Histórica baseada no reconstrucionismo histórico.

 


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Idade Moderna (1453 – 1789)

A Idade Moderna (1453 a 1789) foi um período de transição do feudalismo para o modo de produção capitalista, em que a burguesia comercial se fortaleceu. Foi também uma época de descobrimentos marítimos pelos europeus, colonização e exploração das terras descobertas na América e África.

Na época, com o desenvolvimento marcante do comércio, mercadorias orientais, principalmente especiarias, eram vendidas a altíssimos preços para a Europa, pois a única rota disponível era através do Mar Mediterrâneo, o que acabava gerando um monopólio dos italianos. Com o intuito de buscar rotas marítimas alternativas para o comércio, deu-se início a Expansão Marítima Europeia ou Grandes Navegações, em que o poderio europeu se expandiu primeiro para o Mediterrâneo, depois para o Atlântico e finalmente ao Índico e Pacífico (BERNSTEIN, 2009). Deste modo, esta expansão humana na Modernidade, em grande parte, motivada pelas trocas comerciais, originou outro fenômeno igualmente importante, o dos intercâmbios botânicos.

Outro fato marcante, no final do século XVIII, foi o início da Primeira Revolução Industrial em 1760, na Inglaterra. O país foi pioneiro na industrialização, pois era detentor de matéria prima, capital e mão de obra. A manufatura foi sendo substituída pela mecanização através de máquinas, além da substituição por novas fontes de energia e novos rumos no que diz respeito.

  • Grandes Navegações

Refere-se a um conjunto de expedições marítimas que tinha como objetivo atingir o Oriente e as chamadas especiarias: produtos orientais na forma de condimentos, usados na culinária para proporcionar sabores diferentes e conservar os alimentos; fabricação de cosméticos, óleos e medicamentos. Dentre eles, podemos destacar a canela e a noz moscada, que eram muito valorizadas na Europa, pois não podiam ser cultivadas no continente devido ao clima. Neste período houve a disseminação do cultivo, comercialização e consumo de diversas plantas, impulsionando um intercâmbio botânico entre os continentes.

Não menos importante do que a propagação das especiarias orientais, através das relações mercantis, foi o contato com novas espécies e disseminação das plantas encontradas no Novo Mundo com o qual se depararam os europeus no final do século XVI, a América. Muitas delas também ganharam os mares e disseminaram seus sabores e aromas para além do continente americano.  Com a disseminação, essas plantas americanas, como o milho e o tabaco, também se converteram em elementos de importância cultural e econômica.

– Especiarias orientais:

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– Plantas da América:

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Extrativismo vegetal

A intensa procura por matéria prima em outros continentes também resultou em um intenso extrativismo vegetal. Esta atividade consiste na retirada de recursos da natureza, que serão usados para comercialização direta ou indireta pelo homem.
No Brasil as atividades extrativistas têm sido uma constante desde o período colonial, quando se explorava recursos madeireiros. Um exemplo é a exploração intensiva do Pau Brasil pelos portugueses. Este vegetal era frequentemente encontrado na região da Mata Atlântica brasileira, que se estendia por faixas de terra que iam de estados como o Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. Hoje, a espécie encontra-se ameaçada. Suas propriedades fizeram dela o primeiro produto realmente valioso no período da montagem do sistema colonial português, sendo seu comércio um empreendimento lucrativo, dando início a atividade econômica dos europeus no Brasil e ao processo de ocupação.
No período em que o Brasil foi colonizado, os portugueses verificaram, na Amazônia, a existência de uma grande variedade de recursos naturais que incluíam raízes, frutas e diversos tipos de plantas, entre elas, a baunilha e o urucum. Uma das formas com que os colonizadores aumentavam este conhecimento era o contato com os nativos da terra, que já faziam uso e sabiam do potencial culinário e curativo de vegetais, que ficaram conhecidos como drogas do sertão. A exploração da região amazônica com a extração das “drogas do sertão” surgiu como uma substituição do papel econômico desempenhado anteriormente pelas especiarias orientais. Era realizada pelos jesuítas, que se aproveitavam do conhecimento e mão de obra dos nativos, ou então pelos bandeirantes, que vendiam esses produtos na região litorânea. De modo geral, a extração das drogas do sertão atendia demandas tanto do mercado interno, como externo.

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• Industrialização

A Revolução Industrial teve início na Europa em 1760 e constituiu na transição de métodos artesanais de produção para a produção por máquinas, com o surgimento de novas fontes de energia. Houve uma intensa diminuição do uso de produtos vegetais no setor energético e na medicina. Até então, a madeira (lenha) era o recurso primário utilizado para a produção de energia, mas começou a ficar escassa, além de que não poderia ser rapidamente renovada em uma abundância suficiente para atender à demanda. Consequentemente, o carvão vegetal também não podia ser utilizado desenfreadamente, já que ele é feito a partir da queimada de madeira.

Com a diminuição da quantidade de árvores para produzir lenha, surgiu a necessidade de se descobrir novas fontes energéticas. Durante a Revolução Industrial, a madeira começa a ser substituída paulatinamente pelos combustíveis fósseis, que apresentam vantagens no transporte, manuseio e consumo. Na 1º Revolução Industrial o carvão mineral tornou-se popular, tornando o modo de produção mais rápido por alimentar máquinas muito mais eficientes do que o lento trabalho manual. Depois, foi sendo substituído pelo petróleo e seus derivados, além da inserção da eletricidade como fonte de energia, na 2º Revolução Industrial. Além disso, a produção de energia a partir dessas novas fontes passa a ser um propulsor para o crescimento econômico, por constituir, também, uma atividade industrial complexa. A Revolução Industrial utilizou recursos não renováveis em quantidades massivas, o que causou grandes impactos para o meio ambiente. Com a industrialização, foi observado também um declínio no uso de plantas medicinais, que passaram a ter suas propriedades terapêuticas questionadas e a ser substituídas por medicamentos sintéticos.

Quanto à agricultura, com a crescente demanda de produtos alimentícios para serem consumidos nos aglomerados urbanos, houve a necessidade de mecanização e novos procedimentos de cultivo da terra. O uso de maquinaria possibilitou a abertura de novas e extensas regiões, especialmente para a produção de cereais. Graças à capacidade dos meios de transporte, os produtos vegetais puderam ser levados aos centros de consumo de regiões afastadas.

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Idade Contemporânea (1789 – atual)

 Globalização

Pode ser definida como um processo de transformações sociais, incluindo o crescimento do comércio, dos investimentos, viagens e redes de informática, no qual numerosas forças, entrecruzadas entre si, fazem com que as fronteiras de todo tipo e de todos os níveis sejam mais permeáveis. Acredita-se que este processo teve início nos séculos XV e XVI com as Grandes Navegações e Descobertas Marítimas. Porém, a globalização efetivou-se no final do século XX, logo após a queda do socialismo no leste europeu e na União Soviética, sendo impulsionada pelo neoliberalismo, que ganhou força na década de 1970.

O processo de globalização provocou o desaparecimento de muitas manifestações ou produções de caráter local, que vão desde variedades vegetais, levando a um processo de homogeneização da alimentação até as línguas e outros tipos de costumes e de instituições socioculturais. Possibilitou também o tráfego de espécies ao redor do mundo, iniciando um processo conhecido atualmente como, contaminação biológica por espécies exóticas.

Homogeneização da alimentação

O processo de homogeneização ocorreu progressivamente,como conseqüência da passagem de ecossistemas muito diversificados para outros hiperespecializados e integrados em amplos sistemas de produção agroalimentar, em escala internacional.
Desse modo, aumentou, consideravelmente, a produção mundial de alimentos, ao mesmo tempo que desapareceram numerosas variedades vegetais e animais, que constituíram a base da dieta, em âmbito mais localizado. Num recente comunicado, a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) alertou que o mundo vive um processo de extinção de um número sem precedentes de alimentos. Pelo levantamento feito, há 100 anos o número de espécies vegetais usadas na alimentação humana era de 10.000 e hoje esse número é de 170. Das cerca de trinta mil espécies de plantas terrestres comestíveis que ainda se conhecem no mundo, apenas 30 culturas são responsáveis por 95% das necessidades de energia para a produção da alimentação humana – com arroz, trigo, milho, painço e sorgo representando 60% dessas necessidades. Os vegetais consumidos atualmente são autênticos mutantes, que poucos se parecem com os seus ‘antepassados’ de apenas 30 ou 40 anos atrás.

Como conseqüência de todo esse processo, cada vez mais tem crescido o consumo de alimentos processados industrialmente. Atualmente, em qualquer país, o essencial de sua alimentação provém de um sistema de produção e de distribuição de escala planetária.
O aumento do nível de vida, associado ao desenvolvimento do salário, assim como a evolução do lugar e do papel das mulheres, mudou da produção doméstica alimentar para o sistema de mercado. Os comportamentos alimentares nos países industrializados estão, atualmente, mais baseados nas estratégias de marketing das empresas agroalimentares do que na experiência racional ou nas práticas tradicionais.

Diante deste cenário, surgiu o Sistema Fast Food baseado na distribuição de produtos cozinhados industrialmente e de serviços de restaurantes rápidos, organizados de maneira taylorista cujo produto básico é o hambúrguer, nascido nos EUA nas planícies de Illinois, logo após o término da Segunda Grande Guerra. O Fast Food é o principal fenômeno de consumo do mundo globalizado, é o ícone da globalização, sendo que os seus produtos ganham a preferência, principalmente entre os jovens, quando o mais importante é a praticidade e a rapidez. É importante acrescentar aí as crianças, que são grandes consumidoras do McDonald.
Esta praticidade e rapidez imposta pela sociedade contemporânea acabam derrubando as convenções ditas pela sociedade, construídas historicamente e pautadas pela tradição e pelos costumes. As refeições feitas em conjunto, em casa, com horário determinado e um cardápio planejado, estão se tornando cada vez mais raro. A sociedade de consumo em massa faz com que se desestruturem os sistemas normativos e os controles sociais que regiam tradicionalmente, as práticas e as representações alimentares. Estas novas preferências alimentares, isto é, o hambúrguer, a pizza, a batata frita, a coca cola, fazem com que haja a ascensão e queda de alimentos.

No Brasil, os estudos e pesquisas têm demonstrado que, em função do Fast Food, um novo padrão alimentar está se delineando, com prejuízos dos produtos da dieta tradicional do povo. O feijão, a farinha de mandioca, que foram, desde o século XVIII, a base do cardápio da maioria da população, perdem cada vez mais espaço para os produtos industrializados e com maior valor agregado. Pelos dados, nos últimos 10 anos o consumo anual de feijão caiu de 12 kg, por brasileiro para 9,5 kgs. A farinha passou a ocupar o 38° lugar no mercado alimentar. Em alguns Estados se planta cada vez menos feijão.
O consumo de produtos industrializados está aumentando em quantidade, em variedade e na porcentagem dos gastos orçamentários domésticos. O processo ainda está longe de ter um ponto final, porque a tecnologia alimentar desenha constantemente novos produtos, e as últimas aplicações da biotecnologia anunciam novidades para o futuro, como por exemplo: tomates que não apodrecem, leite de vaca com vacinas incorporadas, berinjelas brancas, arroz colorido e aromatizada, batatas com amido de melhor qualidade, que as tornará mais adequadas ao cozimento do que à fritura, milho com leve sabor de manteiga,etc.

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Invasão biológica

O processo de invasão biológica refere-se aos danos causados por espécies que não fazem parte, naturalmente, de um dado ecossistema, ou seja, são consideradas exóticas, mas que se naturalizam, passam a se dispersar e provocam mudanças em seu funcionamento, não permitindo sua recuperação natural. As plantas exóticas invasoras são atualmente consideradas a segunda maior ameaça mundial à biodiversidade, perdendo apenas para a destruição de hábitats pela exploração humana direta. As conseqüências principais são a perda da biodiversidade e a modificação dos ciclos e características naturais dos ecossistemas atingidos, a alteração fisionômica da paisagem natural.
As primeiras translocações de espécies de uma região a outra do planeta tiveram a intenção de suprir necessidades agrícolas, florestais e outras de uso direto. Em épocas mais recentes, o propósito da introdução de espécies voltou-se significativamente para o comércio de plantas ornamentais. O número de espécies que se tornaram invasoras com o passar do tempo é de quase a metade dos casos de introdução de plantas ornamentais registrados no mundo.

Atualmente, dentre as espécies de árvores já consagradas como invasoras no Brasil estão Pinus elliottii, Casuarina equisetifolia, muito comum no litoral e o gênero Bracchiaria, capins introduzidos para pastagens, é dos mais problemáticos. O potencial de invasão dessas plantas está relacionado a produção de sementes de pequeno tamanho em grande quantidade, dispersão por ventos, maturação precoce, reprodução por sementes e por brotação, longos períodos de floração e frutificação, crescimento rápido, pioneirismo e adaptação a áreas degradadas.
O impacto gerado por essas plantas está sendo considerado como um agente de mudança global por causa da ação antrópica, devido principalmente a escala em que se encontram diversas áreas invadidas e a falta de políticas de prevenção do problema quase em nível global. Além disso, as mesmas espécies exóticas são invasoras de diversos países e sua dominância tende a levar à homogeneização da flora mundial, num lento processo de globalização ambiental.

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Uso de plantas na indústria farmacêutica

É notável a importância histórica do uso de plantas em saúde no Brasil, especialmente na área farmacêutica. De acordo com os dados da OMS, cerca de 252 fármaco são essenciais para a saúde humana, desse total 11% são exclusivamente de origem vegetal. Foram encontrados um total de 512 medicamentos fitoterápicos registrados, sendo 80 fitoterápicos associados e 432 simples, ou seja, obtidos de derivados de apenas uma espécie vegetal. Dentre as espécies com maior registro, temos: Ginkgo biloba (Ginkgo), Aesculus hippocastanum (Castanha da índia) e Maytenus ilicifolia (Espinheira-Santa). Com relação à distribuição geográfica das espécies vegetais com registro, obteve-se: 28,40% asiática; 27,16% européia; 25,92% da América do Sul, incluindo as espécies brasileiras; 19,75% da América do Norte e/ou Central; e 8% africana.
Das plantas comercializadas atualmente, grande parte é obtida a partir de extrativismo.

Algo pouco discutido nesta área de produtos naturais é de que muitos vegetais interessantes para o setor farmacêutico ainda não são domesticados, sobretudo as plantas nativas. É provável que métodos convencionais de manejo agrícola não possam ser aplicados com plantas medicinais, tendo-se necessidade de cultivos associando diversas plantas, tentando reproduzir o ambiente biodiverso em que a mesma se encontra naturalmente.
É importante ressaltar a presença de pesquisas que apresentam em suas diretrizes o incentivo à pesquisa e desenvolvimento com relação ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos, priorizando a biodiversidade do país. Além disso, estimulam a adoção da Fitoterapia nos programas de saúde pública. Espera-se, com isso, um aumento no número de medicamentos fitoterápicos registrados, principalmente com base em espécies nativas.

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Uso de plantas como fonte energética

A biomassa, que pode ser caracterizada como qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em energia térmica, mecânica ou elétrica (ANEEL, 2009) é utilizada como fonte de energia desde os primórdios da civilização humana. Em sua forma mais simples e abundantemente encontrada na natureza, a madeira, a biomassa permitiu ao homem primitivo uma drástica evolução nos hábitos de vida.

Apesar de sua expressão tão significativa como fonte energética, o petróleo possui reservas
naturais com um horizonte de uso de somente mais algumas décadas e diversas questões
ambientais relacionadas ao seu uso, o que tem impulsionado a busca por outras fontes mais sustentáveis e eficientes. Assim, a diversificação das substâncias energéticas passou a ser fundamental para o desenvolvimento dos países, com grandes investimentos nessas tecnologias. É nesse contexto que a produção de energia utilizando a biomassa como energético tem sendo incentivada, ganhando espaço por ser considerada limpa e renovável e advir de recursos naturais, reduzindo também a dependência de combustíveis fósseis.

A biomassa energética pode ser classificada em: florestal, agrícola e rejeitos urbanos (MME:EPE, 2007). Cada um desses grupos de origem pode fornecer vários energéticos que dependem tanto da matéria-prima utilizada (cujo potencial energético varia) quanto da tecnologia de processamento utilizada para obtê-los. A cana de açúcar é um exemplo de biomassa energética agrícola com enorme potencial de geração de energia no Brasil e no mundo. Dela pode ser obtido o etanol, a palha e o bagaço de cana. Outros exemplos que geram subprodutos com potencial energético são o milho e o trigo.

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Referências

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Colaboração : Luciana Campos, Cintia Bueno

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