Etnobotânica : O Desenvolvimento do Mundo Ocidental e as Plantas

"Simplesmente adormeceu a força na semente, um modelo incipiente, Deitado, fechado em si mesmo, curvado sob a cobertura, Folha e raiz e embrião formado, apenas, pela metade, e incolor; seca, a semente mantém protegida a vida assim conquistada, flui com esforço para cima, umedece-se suave e confiante, e ergue-se tão logo da noite se acerca." Johann Wolfgang de Goethe

Idade Contemporânea (1789 – atual)

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 Globalização

Pode ser definida como um processo de transformações sociais, incluindo o crescimento do comércio, dos investimentos, viagens e redes de informática, no qual numerosas forças, entrecruzadas entre si, fazem com que as fronteiras de todo tipo e de todos os níveis sejam mais permeáveis. Acredita-se que este processo teve início nos séculos XV e XVI com as Grandes Navegações e Descobertas Marítimas. Porém, a globalização efetivou-se no final do século XX, logo após a queda do socialismo no leste europeu e na União Soviética, sendo impulsionada pelo neoliberalismo, que ganhou força na década de 1970.

O processo de globalização provocou o desaparecimento de muitas manifestações ou produções de caráter local, que vão desde variedades vegetais, levando a um processo de homogeneização da alimentação até as línguas e outros tipos de costumes e de instituições socioculturais. Possibilitou também o tráfego de espécies ao redor do mundo, iniciando um processo conhecido atualmente como, contaminação biológica por espécies exóticas.

Homogeneização da alimentação

O processo de homogeneização ocorreu progressivamente,como conseqüência da passagem de ecossistemas muito diversificados para outros hiperespecializados e integrados em amplos sistemas de produção agroalimentar, em escala internacional.
Desse modo, aumentou, consideravelmente, a produção mundial de alimentos, ao mesmo tempo que desapareceram numerosas variedades vegetais e animais, que constituíram a base da dieta, em âmbito mais localizado. Num recente comunicado, a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) alertou que o mundo vive um processo de extinção de um número sem precedentes de alimentos. Pelo levantamento feito, há 100 anos o número de espécies vegetais usadas na alimentação humana era de 10.000 e hoje esse número é de 170. Das cerca de trinta mil espécies de plantas terrestres comestíveis que ainda se conhecem no mundo, apenas 30 culturas são responsáveis por 95% das necessidades de energia para a produção da alimentação humana – com arroz, trigo, milho, painço e sorgo representando 60% dessas necessidades. Os vegetais consumidos atualmente são autênticos mutantes, que poucos se parecem com os seus ‘antepassados’ de apenas 30 ou 40 anos atrás.

Como conseqüência de todo esse processo, cada vez mais tem crescido o consumo de alimentos processados industrialmente. Atualmente, em qualquer país, o essencial de sua alimentação provém de um sistema de produção e de distribuição de escala planetária.
O aumento do nível de vida, associado ao desenvolvimento do salário, assim como a evolução do lugar e do papel das mulheres, mudou da produção doméstica alimentar para o sistema de mercado. Os comportamentos alimentares nos países industrializados estão, atualmente, mais baseados nas estratégias de marketing das empresas agroalimentares do que na experiência racional ou nas práticas tradicionais.

Diante deste cenário, surgiu o Sistema Fast Food baseado na distribuição de produtos cozinhados industrialmente e de serviços de restaurantes rápidos, organizados de maneira taylorista cujo produto básico é o hambúrguer, nascido nos EUA nas planícies de Illinois, logo após o término da Segunda Grande Guerra. O Fast Food é o principal fenômeno de consumo do mundo globalizado, é o ícone da globalização, sendo que os seus produtos ganham a preferência, principalmente entre os jovens, quando o mais importante é a praticidade e a rapidez. É importante acrescentar aí as crianças, que são grandes consumidoras do McDonald.
Esta praticidade e rapidez imposta pela sociedade contemporânea acabam derrubando as convenções ditas pela sociedade, construídas historicamente e pautadas pela tradição e pelos costumes. As refeições feitas em conjunto, em casa, com horário determinado e um cardápio planejado, estão se tornando cada vez mais raro. A sociedade de consumo em massa faz com que se desestruturem os sistemas normativos e os controles sociais que regiam tradicionalmente, as práticas e as representações alimentares. Estas novas preferências alimentares, isto é, o hambúrguer, a pizza, a batata frita, a coca cola, fazem com que haja a ascensão e queda de alimentos.

No Brasil, os estudos e pesquisas têm demonstrado que, em função do Fast Food, um novo padrão alimentar está se delineando, com prejuízos dos produtos da dieta tradicional do povo. O feijão, a farinha de mandioca, que foram, desde o século XVIII, a base do cardápio da maioria da população, perdem cada vez mais espaço para os produtos industrializados e com maior valor agregado. Pelos dados, nos últimos 10 anos o consumo anual de feijão caiu de 12 kg, por brasileiro para 9,5 kgs. A farinha passou a ocupar o 38° lugar no mercado alimentar. Em alguns Estados se planta cada vez menos feijão.
O consumo de produtos industrializados está aumentando em quantidade, em variedade e na porcentagem dos gastos orçamentários domésticos. O processo ainda está longe de ter um ponto final, porque a tecnologia alimentar desenha constantemente novos produtos, e as últimas aplicações da biotecnologia anunciam novidades para o futuro, como por exemplo: tomates que não apodrecem, leite de vaca com vacinas incorporadas, berinjelas brancas, arroz colorido e aromatizada, batatas com amido de melhor qualidade, que as tornará mais adequadas ao cozimento do que à fritura, milho com leve sabor de manteiga,etc.

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Invasão biológica

O processo de invasão biológica refere-se aos danos causados por espécies que não fazem parte, naturalmente, de um dado ecossistema, ou seja, são consideradas exóticas, mas que se naturalizam, passam a se dispersar e provocam mudanças em seu funcionamento, não permitindo sua recuperação natural. As plantas exóticas invasoras são atualmente consideradas a segunda maior ameaça mundial à biodiversidade, perdendo apenas para a destruição de hábitats pela exploração humana direta. As conseqüências principais são a perda da biodiversidade e a modificação dos ciclos e características naturais dos ecossistemas atingidos, a alteração fisionômica da paisagem natural.
As primeiras translocações de espécies de uma região a outra do planeta tiveram a intenção de suprir necessidades agrícolas, florestais e outras de uso direto. Em épocas mais recentes, o propósito da introdução de espécies voltou-se significativamente para o comércio de plantas ornamentais. O número de espécies que se tornaram invasoras com o passar do tempo é de quase a metade dos casos de introdução de plantas ornamentais registrados no mundo.

Atualmente, dentre as espécies de árvores já consagradas como invasoras no Brasil estão Pinus elliottii, Casuarina equisetifolia, muito comum no litoral e o gênero Bracchiaria, capins introduzidos para pastagens, é dos mais problemáticos. O potencial de invasão dessas plantas está relacionado a produção de sementes de pequeno tamanho em grande quantidade, dispersão por ventos, maturação precoce, reprodução por sementes e por brotação, longos períodos de floração e frutificação, crescimento rápido, pioneirismo e adaptação a áreas degradadas.
O impacto gerado por essas plantas está sendo considerado como um agente de mudança global por causa da ação antrópica, devido principalmente a escala em que se encontram diversas áreas invadidas e a falta de políticas de prevenção do problema quase em nível global. Além disso, as mesmas espécies exóticas são invasoras de diversos países e sua dominância tende a levar à homogeneização da flora mundial, num lento processo de globalização ambiental.

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Uso de plantas na indústria farmacêutica

É notável a importância histórica do uso de plantas em saúde no Brasil, especialmente na área farmacêutica. De acordo com os dados da OMS, cerca de 252 fármaco são essenciais para a saúde humana, desse total 11% são exclusivamente de origem vegetal. Foram encontrados um total de 512 medicamentos fitoterápicos registrados, sendo 80 fitoterápicos associados e 432 simples, ou seja, obtidos de derivados de apenas uma espécie vegetal. Dentre as espécies com maior registro, temos: Ginkgo biloba (Ginkgo), Aesculus hippocastanum (Castanha da índia) e Maytenus ilicifolia (Espinheira-Santa). Com relação à distribuição geográfica das espécies vegetais com registro, obteve-se: 28,40% asiática; 27,16% européia; 25,92% da América do Sul, incluindo as espécies brasileiras; 19,75% da América do Norte e/ou Central; e 8% africana.
Das plantas comercializadas atualmente, grande parte é obtida a partir de extrativismo.

Algo pouco discutido nesta área de produtos naturais é de que muitos vegetais interessantes para o setor farmacêutico ainda não são domesticados, sobretudo as plantas nativas. É provável que métodos convencionais de manejo agrícola não possam ser aplicados com plantas medicinais, tendo-se necessidade de cultivos associando diversas plantas, tentando reproduzir o ambiente biodiverso em que a mesma se encontra naturalmente.
É importante ressaltar a presença de pesquisas que apresentam em suas diretrizes o incentivo à pesquisa e desenvolvimento com relação ao uso de plantas medicinais e fitoterápicos, priorizando a biodiversidade do país. Além disso, estimulam a adoção da Fitoterapia nos programas de saúde pública. Espera-se, com isso, um aumento no número de medicamentos fitoterápicos registrados, principalmente com base em espécies nativas.

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Uso de plantas como fonte energética

A biomassa, que pode ser caracterizada como qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em energia térmica, mecânica ou elétrica (ANEEL, 2009) é utilizada como fonte de energia desde os primórdios da civilização humana. Em sua forma mais simples e abundantemente encontrada na natureza, a madeira, a biomassa permitiu ao homem primitivo uma drástica evolução nos hábitos de vida.

Apesar de sua expressão tão significativa como fonte energética, o petróleo possui reservas
naturais com um horizonte de uso de somente mais algumas décadas e diversas questões
ambientais relacionadas ao seu uso, o que tem impulsionado a busca por outras fontes mais sustentáveis e eficientes. Assim, a diversificação das substâncias energéticas passou a ser fundamental para o desenvolvimento dos países, com grandes investimentos nessas tecnologias. É nesse contexto que a produção de energia utilizando a biomassa como energético tem sendo incentivada, ganhando espaço por ser considerada limpa e renovável e advir de recursos naturais, reduzindo também a dependência de combustíveis fósseis.

A biomassa energética pode ser classificada em: florestal, agrícola e rejeitos urbanos (MME:EPE, 2007). Cada um desses grupos de origem pode fornecer vários energéticos que dependem tanto da matéria-prima utilizada (cujo potencial energético varia) quanto da tecnologia de processamento utilizada para obtê-los. A cana de açúcar é um exemplo de biomassa energética agrícola com enorme potencial de geração de energia no Brasil e no mundo. Dela pode ser obtido o etanol, a palha e o bagaço de cana. Outros exemplos que geram subprodutos com potencial energético são o milho e o trigo.

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Referências

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Colaboração : Luciana Campos, Cintia Bueno

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