Etnobotânica : O Desenvolvimento do Mundo Ocidental e as Plantas

"Simplesmente adormeceu a força na semente, um modelo incipiente, Deitado, fechado em si mesmo, curvado sob a cobertura, Folha e raiz e embrião formado, apenas, pela metade, e incolor; seca, a semente mantém protegida a vida assim conquistada, flui com esforço para cima, umedece-se suave e confiante, e ergue-se tão logo da noite se acerca." Johann Wolfgang de Goethe

Idade Moderna (1453 – 1789)

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A Idade Moderna (1453 a 1789) foi um período de transição do feudalismo para o modo de produção capitalista, em que a burguesia comercial se fortaleceu. Foi também uma época de descobrimentos marítimos pelos europeus, colonização e exploração das terras descobertas na América e África.

Na época, com o desenvolvimento marcante do comércio, mercadorias orientais, principalmente especiarias, eram vendidas a altíssimos preços para a Europa, pois a única rota disponível era através do Mar Mediterrâneo, o que acabava gerando um monopólio dos italianos. Com o intuito de buscar rotas marítimas alternativas para o comércio, deu-se início a Expansão Marítima Europeia ou Grandes Navegações, em que o poderio europeu se expandiu primeiro para o Mediterrâneo, depois para o Atlântico e finalmente ao Índico e Pacífico (BERNSTEIN, 2009). Deste modo, esta expansão humana na Modernidade, em grande parte, motivada pelas trocas comerciais, originou outro fenômeno igualmente importante, o dos intercâmbios botânicos.

Outro fato marcante, no final do século XVIII, foi o início da Primeira Revolução Industrial em 1760, na Inglaterra. O país foi pioneiro na industrialização, pois era detentor de matéria prima, capital e mão de obra. A manufatura foi sendo substituída pela mecanização através de máquinas, além da substituição por novas fontes de energia e novos rumos no que diz respeito.

  • Grandes Navegações

Refere-se a um conjunto de expedições marítimas que tinha como objetivo atingir o Oriente e as chamadas especiarias: produtos orientais na forma de condimentos, usados na culinária para proporcionar sabores diferentes e conservar os alimentos; fabricação de cosméticos, óleos e medicamentos. Dentre eles, podemos destacar a canela e a noz moscada, que eram muito valorizadas na Europa, pois não podiam ser cultivadas no continente devido ao clima. Neste período houve a disseminação do cultivo, comercialização e consumo de diversas plantas, impulsionando um intercâmbio botânico entre os continentes.

Não menos importante do que a propagação das especiarias orientais, através das relações mercantis, foi o contato com novas espécies e disseminação das plantas encontradas no Novo Mundo com o qual se depararam os europeus no final do século XVI, a América. Muitas delas também ganharam os mares e disseminaram seus sabores e aromas para além do continente americano.  Com a disseminação, essas plantas americanas, como o milho e o tabaco, também se converteram em elementos de importância cultural e econômica.

– Especiarias orientais:

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– Plantas da América:

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Extrativismo vegetal

A intensa procura por matéria prima em outros continentes também resultou em um intenso extrativismo vegetal. Esta atividade consiste na retirada de recursos da natureza, que serão usados para comercialização direta ou indireta pelo homem.
No Brasil as atividades extrativistas têm sido uma constante desde o período colonial, quando se explorava recursos madeireiros. Um exemplo é a exploração intensiva do Pau Brasil pelos portugueses. Este vegetal era frequentemente encontrado na região da Mata Atlântica brasileira, que se estendia por faixas de terra que iam de estados como o Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. Hoje, a espécie encontra-se ameaçada. Suas propriedades fizeram dela o primeiro produto realmente valioso no período da montagem do sistema colonial português, sendo seu comércio um empreendimento lucrativo, dando início a atividade econômica dos europeus no Brasil e ao processo de ocupação.
No período em que o Brasil foi colonizado, os portugueses verificaram, na Amazônia, a existência de uma grande variedade de recursos naturais que incluíam raízes, frutas e diversos tipos de plantas, entre elas, a baunilha e o urucum. Uma das formas com que os colonizadores aumentavam este conhecimento era o contato com os nativos da terra, que já faziam uso e sabiam do potencial culinário e curativo de vegetais, que ficaram conhecidos como drogas do sertão. A exploração da região amazônica com a extração das “drogas do sertão” surgiu como uma substituição do papel econômico desempenhado anteriormente pelas especiarias orientais. Era realizada pelos jesuítas, que se aproveitavam do conhecimento e mão de obra dos nativos, ou então pelos bandeirantes, que vendiam esses produtos na região litorânea. De modo geral, a extração das drogas do sertão atendia demandas tanto do mercado interno, como externo.

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• Industrialização

A Revolução Industrial teve início na Europa em 1760 e constituiu na transição de métodos artesanais de produção para a produção por máquinas, com o surgimento de novas fontes de energia. Houve uma intensa diminuição do uso de produtos vegetais no setor energético e na medicina. Até então, a madeira (lenha) era o recurso primário utilizado para a produção de energia, mas começou a ficar escassa, além de que não poderia ser rapidamente renovada em uma abundância suficiente para atender à demanda. Consequentemente, o carvão vegetal também não podia ser utilizado desenfreadamente, já que ele é feito a partir da queimada de madeira.

Com a diminuição da quantidade de árvores para produzir lenha, surgiu a necessidade de se descobrir novas fontes energéticas. Durante a Revolução Industrial, a madeira começa a ser substituída paulatinamente pelos combustíveis fósseis, que apresentam vantagens no transporte, manuseio e consumo. Na 1º Revolução Industrial o carvão mineral tornou-se popular, tornando o modo de produção mais rápido por alimentar máquinas muito mais eficientes do que o lento trabalho manual. Depois, foi sendo substituído pelo petróleo e seus derivados, além da inserção da eletricidade como fonte de energia, na 2º Revolução Industrial. Além disso, a produção de energia a partir dessas novas fontes passa a ser um propulsor para o crescimento econômico, por constituir, também, uma atividade industrial complexa. A Revolução Industrial utilizou recursos não renováveis em quantidades massivas, o que causou grandes impactos para o meio ambiente. Com a industrialização, foi observado também um declínio no uso de plantas medicinais, que passaram a ter suas propriedades terapêuticas questionadas e a ser substituídas por medicamentos sintéticos.

Quanto à agricultura, com a crescente demanda de produtos alimentícios para serem consumidos nos aglomerados urbanos, houve a necessidade de mecanização e novos procedimentos de cultivo da terra. O uso de maquinaria possibilitou a abertura de novas e extensas regiões, especialmente para a produção de cereais. Graças à capacidade dos meios de transporte, os produtos vegetais puderam ser levados aos centros de consumo de regiões afastadas.

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